A trajetória de Menachem Begin é uma das mais surpreendentes da história moderna de Israel. De comandante de um grupo paramilitar judeu considerado controverso à figura respeitada internacionalmente como Prêmio Nobel da Paz, Begin foi um homem de contrastes profundos — e também de convicções inabaláveis.
Sua história é marcada por luta, exílio, ideologia, resistência e, mais tarde, diplomacia e tentativa de reconciliação. Um personagem que personifica os dilemas, as dores e as conquistas da construção do Estado de Israel.
Infância e juventude: as raízes na Polônia
Menachem Begin nasceu em 1913, na cidade de Brest-Litovsk, então parte do Império Russo (atualmente Bielorrússia). Criado em um lar sionista, desde jovem foi influenciado pelas ideias de Ze’ev Jabotinsky, líder do sionismo revisionista — uma corrente que defendia um Estado judeu forte e autônomo em toda a Terra de Israel.
Estudou direito na Universidade de Varsóvia, mas seu ativismo político sempre falou mais alto. A ascensão do nazismo e o crescente antissemitismo na Europa o impulsionaram ainda mais na luta por uma pátria judaica.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso pelos soviéticos e enviado a um campo de trabalhos forçados na Sibéria. Após sua libertação, chegou à Palestina, então sob domínio britânico, em 1942.
A liderança no Irgun
Ao chegar à Palestina, Begin assumiu o comando do Irgun (Etzel), uma organização paramilitar judaica que defendia uma luta armada contra o domínio britânico para garantir a independência dos judeus na região.
Sob sua liderança, o Irgun promoveu ataques a alvos britânicos, incluindo o polêmico atentado ao Hotel King David, em 1946, que resultou na morte de dezenas de pessoas e gerou condenações internacionais.
Begin era, para alguns, um herói nacional; para outros, um extremista perigoso. O Irgun foi muitas vezes criticado por grupos judaicos mais moderados e pelas autoridades britânicas, mas sua atuação teve impacto direto na pressão pela retirada britânica e na posterior criação do Estado de Israel.
A transição para a política democrática
Com a criação do Estado de Israel, em 1948, Begin transformou o Irgun em um partido político — o Herut — que mais tarde se tornaria a base do Likud, uma das maiores forças políticas de Israel até hoje.
Durante quase 30 anos, ele permaneceu na oposição, sendo uma voz incansável em defesa de uma postura mais rígida em relação à segurança nacional, à integridade territorial de Israel e à resistência à pressão internacional.
Begin era um orador poderoso, com discursos apaixonados que mobilizavam multidões. Mesmo sem fazer parte do governo, foi moldando uma base política sólida.
A vitória histórica nas eleições de 1977
Em 1977, após décadas na oposição, o partido de Begin — agora o Likud — venceu as eleições, quebrando a hegemonia da esquerda israelense desde a fundação do Estado. Começava a chamada “revolução política” de Israel.
A eleição de Begin foi um marco. Ele se tornou o sexto primeiro-ministro de Israel, mas o primeiro que não vinha da elite ashkenazi socialista que havia liderado o país por décadas. Era, portanto, o primeiro líder israelense com raízes revisionistas a assumir o comando do Estado.
O acordo de paz com o Egito
O momento mais emblemático do governo de Menachem Begin aconteceu em 1978, quando ele assinou, ao lado do presidente egípcio Anwar Sadat, os Acordos de Camp David, com a mediação do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.
Pela primeira vez, um país árabe reconhecia oficialmente o Estado de Israel. Em troca, Israel devolveu o deserto do Sinai ao Egito, uma concessão territorial significativa.
O acordo foi polêmico internamente — muitos israelenses eram contra a devolução da terra —, mas foi celebrado mundialmente como um passo histórico pela paz no Oriente Médio.
Por esse feito, Begin e Sadat receberam o Prêmio Nobel da Paz em 1978. O comandante de um grupo armado se tornava símbolo de reconciliação — uma reviravolta notável.
Polêmicas no Líbano
Apesar dos avanços diplomáticos, o governo de Begin enfrentou sérios desafios, especialmente com a invasão do Líbano em 1982. A ação, inicialmente planejada como um ataque limitado contra forças da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), se transformou em um conflito prolongado e complicado.
Durante a guerra, ocorreu o massacre de Sabra e Shatila, cometido por milícias cristãs libanesas aliadas de Israel. Embora o exército israelense não tenha participado diretamente, a falta de intervenção levou a críticas pesadas contra Begin e seu ministro da Defesa, Ariel Sharon.
O episódio abalou profundamente a moral nacional e teve grande impacto na imagem de seu governo, além de provocar protestos massivos em Israel.
Os últimos anos no poder e a renúncia
Após a morte de sua esposa Aliza em 1982 e diante da crescente pressão pública, Begin começou a se afastar da vida pública. Em 1983, renunciou ao cargo de primeiro-ministro e se retirou completamente da política.
Viveu seus últimos anos em reclusão, evitando entrevistas e aparições públicas. Morreu em 1992, aos 78 anos.
O legado de Menachem Begin
Menachem Begin deixou um legado complexo, mas profundamente marcante:
Foi um líder combativo, que não hesitava em defender sua visão de mundo, mesmo diante de críticas severas.
Transformou um movimento militante em uma força política democrática, respeitada e duradoura.
Surpreendeu o mundo ao assinar a primeira paz entre Israel e um país árabe, demonstrando flexibilidade onde menos se esperava.
Conquistou o respeito internacional e, ao mesmo tempo, enfrentou críticas duras por decisões militares internas.
Seu nome é lembrado tanto em discursos políticos quanto em instituições que levam seu nome — como o Centro do Patrimônio Menachem Begin, em Jerusalém, onde sua história é contada com profundidade.
Um homem de contradições e convicções
Begin era um líder que carregava dentro de si muitas contradições:
Um militante intransigente que também soube negociar.
Um opositor histórico que chegou ao poder com maturidade.
Um líder de guerra que assinou a paz.
Seu estilo de vida modesto, sua devoção ao povo judeu e seu amor por Israel o tornaram uma figura querida, mesmo entre aqueles que não concordavam com suas ideias.
A história de Menachem Begin nos lembra que a liderança verdadeira exige coragem para lutar, mas também coragem para mudar. E que, por vezes, os maiores pacificadores são aqueles que conhecem, de perto, o custo da guerra.
Nota editorial: Este artigo tem fins estritamente educativos e informativos. Todo o conteúdo apresentado busca oferecer uma visão histórica, biográfica e cultural, sem intenções políticas, ideológicas ou partidárias. Os fatos relatados são baseados em fontes históricas amplamente reconhecidas e não representam posicionamento editorial.