Primeira Guerra Mundial? Onde estavam os judeus? O que fizeram? Combateram? Foram perseguidos? Havia soldados judeus em todos os exércitos? Para quem se interessa pelo Holocausto, a resposta está na ponta da língua: dos 500 mil judeus alemães, 100 mil participaram da Primeira Guerra Mundial e 12.000 morreram.
E se dissermos que estes 100.000 judeus alemães não significaram nem 20% dos judeus que combateram pelas Potências Centrais (Império Austro-Húngaro, Alemanha, Bulgária, Império Turco-Otomano)? E se mostrarmos que 1.500.000 (um milhão e meio) de judeus estiveram em armas naquele período, receberam treinamento, participaram de combates e ações militares? Onde estavam os europeus deste contingente, 22 anos depois, quando a força das armas e o treinamento militar poderiam ter feito a diferença ao se depararem com a sanha nazista?
A grande decepção reside no fato dos que querem estudar o tema ou conhece-lo mais, nada encontrarem sobre o assunto nos livros didáticos ou históricos. Não há livros escritos pelos ex-combatentes judeus de nenhum país. Não há quase nada na internet. Não há livros escritos pelos comandantes judeus na Primeira Guerra Mundial.
Os que combateram e imigraram depois da Gripe Espanhola, deixaram de lado sua formação militar e o combate. A Primeira Guerra Mundial foi tão terrível que praticamente todos decidiram não contar nada. Os poucos relatos fiéis existentes constam nas citações oficias das medalhas, em todos os países, pois resumem a ação heróica que levou à sua concessão.

Na imprensa judaica carioca não há uma linha sequer sobre os judeus que combateram na Primeira Guerra Mundial e sobre os imigrantes ex-combatentes posteriores. Na imprensa geral há material sobre os judeus e sobre os brasileiros envolvidos: uma outra história mais complexa a ser contada em detalhes.
Os ex-combatentes judeus na América Latina, não formaram associações. Na Inglaterra, EUA, Canadá e Alemanha, formaram, mantém museus (menos na Alemanha) e tem sua história preservada.
É exatamente da caneta de um jornalista judeu norte-americano, chamado Bernard Postal, que vem os dados a seguir. Este homem assinou um artigo sobre o assunto, publicado no Canadian Jewish Chronicle (Crônica Judaica Canadense), já impresso quando aconteceu a “Noite dos Vidros Quebrados” (Noite dos Cristais de 9 para 10 de novembro de 1938 na Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia).
Para o dia seguinte, 11 de novembro, estavam marcadas comemorações em toda a Europa pela derrota alemã de 20 anos antes na Primeira Guerra Mundial.
A “Noite dos Vidros Quebrados” também foi uma arma da propaganda nazista para mostrar ao mundo a força do regime de Hitler e varrer as comemorações tão antecipadas e programadas em todas as capitais aliadas. Funcionou de fato. Durante a semana seguinta ao dia 10, os jornais falavam da força e poder do regime nazista contra os judeus da Alemanha, Áustria e Sudetos (parte norte da Thecoslováquia anexada com aval do Império Britânico e França). Notícias sim, críticas ao que os nazis fizeram, não. A lembrança da derrota em 1918 foi apagada pela vitória contra os judeus em 1938.
Postal levou alguns anos recolhendo e classificando dados oficiais para podermos, hoje, reescrever a história de forma documental. Ao longo de sua vida, Postal teve vários cargos importantes, como o de diretor de relações públicas da B’nai Brith americana (1938-1946), sediada em Washington, ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial.

Vale a pena conhecer um pouco mais deste homem. Bernard Postal (1905-1981), editor do Jewish Daily Bulletin de Nova York (1929-31), editor do Jersey City Jewish Standard (1931-33), repórter e editor do Seven Arts Feature Syndicate (1933-38), uma agência de notícias judaica sediada em Nova York, fundador da Jewish Digest em 1955, a qual dirigiu até sua morte. Escreveu vários livros, entre eles os “Landmarks” (Pontos de Referência) dos judeus na Europa e nos EUA (este, enorme, com quatro volumes) e foi coautor da Enciclopédia dos Judeus nos Esportes, um compêndio de 526 páginas publicado em 1965. Todavia, esta é a única foto pública dele.
Em 1938 Postal derrubou uma noção arraigada de que os judeus do século 19 e início do 20, não pegavam em armas e pegar em armas seria apenas um reflexo da necessidade da luta sionista pela existência e manutenção de judeus na Palestina do Mandato Britânico e depois, para manter o Estado de Israel.

Em alguns países das Potências Centrais (Alemanha e Império Austro-Húngaro) os judeus não podiam chegar ao oficialato antes da guerra. Na Rússia ainda estava em vigor o serviço militar obrigatório de seis anos para os primogênitos judeus. A saber, antes, era de 25 anos, ao longo do século 19 – uma sentença de morte ao completar 18 anos de idade.
Nos Estados Germânicos, antes da unificação da Alemanha, criação da Áustria e separação do lado oeste da Polônia, até a Primeira Guerra Mundial, os judeus sequer podiam ser funcionários públicos. Até mesmo a profissão de varredor de rua, paga pela Prefeitura, era impedida. Isso era ligeiramente diferente da cidadania de segunda classe dos países muçulmanos, mas o efeito social era o mesmo: alijar os judeus. Este foi um dos motivos pelos quais muitos judeus se converteram ao catolicismo ou ao luteranismo: assim podiam ser funcionários públicos e galgar as patentes militares. Um dos exemplo mais clássicos foi a conversão praticada pelo pai de Karl Marx, o advogado Heinrich Marx (1777-1838).
Não! Marx não é um sobrenome típico judaico. Heinrich nasceu Herschel Mordechai, filho de Marx Levy Mordechai (1743-1804) e Eva Lwow (1753-1823). Quando ele se converteu, adotou como sobrenome o primeiro nome do pai dele. Ele nasceu e cresceu na Renânia francesa. Depois da derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo, em 1815, a Renânia passou a ser controlada pelo Reino da Prússia (um dos Estados Germânicos). Hershel trabalha na administração pública.
A Prússia era um estado cristão que se afirmava sobre o direito divino dos reis, e as igrejas cristãs eram como responsáveis pela sua liderança política. Um decreto de 1812, imposto pela Prússia, afirmou que os judeus não poderiam ocupar cargos jurídicos ou do serviço público, e a introdução da lei na Renânia Francesa trouxe problemas para Herschel Mordechai. Os juristas locais, inclusive o presidente do tribunal apelaram por uma decisão que abrisse uma exceção específica para ele, mas o recurso foi rejeitado pelo ministro prussiano da justiça. Em Em 1817 Herschel converteu-se ao cristianismo luterano. Sua esposa e crianças foram batizadas em 1825 e 1824, respectivamente. Carl Mordechai (com “C” mesmo), nasceu em 1818, portanto foi convertido aos seis anos de idade.
Por outro lado havia clubes de tiro e esgrima judaicos a ponto das medalhistas de ouro, prata e bronze da esgrima na Olimpíada de 1936 em Berlim, terem sido judias: uma húngara, outra alemã, e a terceira austríaca, por mais incrível que possa parecer.
Ilona Schacherer-Elek (1907-1988), judia húngara, bi-campeã europeia medalha de ouro na esgrima na Olimpíada de Berlim, em 1936 e a prata ficou com Helene Mayer, meia-judia alemã, que faz a saudação nazista no pódio. Mayer vivia nos EUA e faleceu em 1952. E para sua surpresa, a terceira no pódio também é judia, a austríaca Ellen Preiss (1912-2007).

Homens em Armas
A Primeira Guerra Mundial mobilizou 65 milhões de homens de 16 países. Um milhão e meio eram judeus! Praticamente 10,7% do total da população judaica do mundo. Se reduzirmos isso somente aos homens, teremos 20% da população masculina.
Se adotarmos uma pirâmide populacional normal e genérica onde uns 35% da população masculina estaria em idade apta para serviço militar, então o número fica assustador: em torno 57% dos homens judeus em idade militar participaram da Primeira Guerra Mundial.

Então, como é que ficou, na história e na memória, que os judeus não estavam lá? De cada grupo de 10 judeus entre 18 e 40 anos de idade, praticamente seis estavam em farda e armas!
Logo após os primeiros combates em 1914, os imigrantes não naturalizados no Brasil, que eram reservistas, foram rapidamente para seus países de origem na Europa. Entre 1915 e 1918, várias levas de reservistas naturalizados e de voluntários brasileiros descendentes de cada país envolvido foram combater na Europa, inclusive judeus franceses e provavelmente judeus alemães.
A embaixada da Alemanha no Brasil nunca conseguiu entregar dados corretos sobre os brasileiros que combateram pela Alemanha.
O arquivo da Associação dos Ex-Combatentes Franceses, foi destruído no mesmo desabamento de edifício que destruiu a nossa biblioteca judaica Hatchia em 1957, mas o mausoléu dos cariocas mortos em farda francesa está lá no cemitério de São João Batista, em Botafogo, a e lista de nomes judeus é significativa.
Não havia imigrantes norte-americanos no Brasil, exceto um ou outro comerciante e os ingleses já estavam há mais de 100 anos Brasil e eram apenas brasileiros. O governo do Catete nunca interferiu na ida destes reservistas, naturalizados ou não, para o combate na Europa.


Os jornais de época sempre publicavam artigos com os militares que voltavam da frente de batalha de licença, e depois retornavam à carnificina que empolgava a maioria do mundo.
Além dos oficiais da Marinha e do Exército Brasileiro que participaram como adidos aos diversos comandos na Europa, tivemos diversos oficiais brasileiros que comandaram tropas, e combateram nas trincheiras, e até mesmo nos céus.
Ainda contaremos melhor a história de vários destes homens que representavam nossas forças armadas e chegaram a postos de comando.

Alguns dos voluntários brasileiros chegaram ao oficialato, como um rapaz italiano do Rio de Janeiro, que ganhou suas divisas de tenente nas batalhas e depois foi transferido para a força aérea italiana, combatendo contra os aviões austríacos.
Lados Opostos
As Potências Centrais ou Tríplice Entente, eram compostas pelo Império Austro-Húngaro (onde a guerra tem início), pela Alemanha, Bulgária e pelo Império Otomano. As Potências Aliadas são a França Bélgica, Inglaterra, Itália, Portugal, Estados Unidos (ao longo da guerra), Império Russo e Polônia, Japão e Brasil (no último ano da guerra). O Japão, por exemplo, controlou o Mediterrâneo e o Canal de Suez, em navios da Marinha Britânica, a partir de um momento que a Inglaterra não tinha mais quem convocar. A população masculina apta para o serviço militar tinha se esgotado. As baixas em todas as marinhas foram altíssimas principalmente por doenças e não por combates. Ninguém conhece esta participação nipônica na Primeira Guerra Mundial.
Talvez o número que boa parte dos leitores conheça e imagine ser único e definitivo, é o de 100.000 judeus alemães tendo participado da Primeira Guerra Mundial. A população judaica da Alemanha era de 500.000. Este número é conhecido devido ao apelo que fizeram de serem poupados pelas Leis Nazistas, por serem patriotas e ex-combatentes. Mas a visão maldita dos ideólogos do Partido Nazista era oposta: “Como assim, patriotas? Eles, os judeus, foram os culpados pela derrota da Alemanha.” E não foram poupados.
Dos 65 milhões de homens em armas, as Potências Aliadas mobilizaram 42 milhões e as Potências Centrais mobilizaram 23 milhões. Vestiam uniformes representando uma população de 1 bilhão de pessoas.
A população judaica no início da guerra era estimada em 14 milhões. E até o final dela, 13.500.000 viviam nos países envolvidos. Perto da metade destes judeus ficou presa na Europa Oriental onde os exércitos ficaram engajados durante todo o conflito.

Naquele momento, havia 2 milhões de judeus na Polônia russa, 1 milhão de judeus na Galícia austríaca e nada menos que 3.500.000 de judeus nas quinze províncias russas que compunham o Pale of Jewish Settlement, ou Zona de Assentamento Judaico, criada pelo Império Russo, no finalzinho do século 18, como zona-tampão entre suas terras principais e o Império Austro-Húngaro. Foi onde os combates aconteceram na frente oriental. Na Segunda Guerra Mundial, seria onde o bojo do Holocausto aconteceria.
Considera-se que o sofrimento destes 6.500.000 milhões de judeus não foi diferente do sofrimento da população em geral nas áreas ocupadas pelas Potências Centrais na Polônia, Bélgica e na França. As populações civis ficaram a mercê de furtos, roubos, agressões, deportações, assassinatos sem motivo e estupro pelos invasores. Algumas vezes, os algozes eram soldados dos exércitos aliados de etnias diferentes.
Os judeus russos e poloneses sofreram nas mãos das tropas alemães e austríacas. Os judeus da Galícia austríaca sofreram nas botas do soldados russos. Mas há um agravante, um sinal que não foi compreendido e é ignorado até hoje.
Durante a Guerra houve pogroms (ataques contra vilas, cidades e bairros judeus organizados pela população civil ou por tropas, com ou sem apoio de soldados e policiais locais) especificamente dirigidos contra os judeus na Europa Oriental (no Pale) – um prelúdio da matança que se iniciaria em 1941. Estima-se que 50.000 civis judeus foram massacrados em centenas de ações violentas e nem é possível estimar o número de feridos e de estupros.
Outros 100.000 judeus da Europa Central morreram em consequência da falta de alimentos e de doenças durante a guerra. Percentual similar ao da população civil geral.
Os números não são nem exatos nem definitivos: são os números oficiais divulgados em 1938 e sobre os quais ninguém se importa.
Nunca foram divulgados ou pesquisados os números de civis judeus mortos na Europa Ocidental durante a Guerra. Esse é um cenário que compõe a necessidade dos judeus saírem da Europa e Rússia após a guerra criando uma fortíssima onda de imigração nas Américas. Também não há contabilização dos mortos na sequência guerra, na Gripe Espanhola.
Apenas através dos números conhecidos as vítimas judias da Primeira Guerra Mundial somam 171.000 militares e 150.000 civis, faltando na conta todas os civis da Europa Ocidental e os vitimados pela Gripe Espanhola no final do conflito.
Entre os 42 milhões de soldados Aliados, 1.055.600 foram judeus, ou seja 2,5% entre uma população onde os judeus somavam apenas 1% da totalidade.
As Potências Centrais mobilizaram 450.500 judeus, 350.000 a mais que aquele conhecido “número mágico da 100.000” da Alemanha. E no Império Otomano? Eu sei, porque já ouvi pessoalmente, de pessoas que se surpreendem ao saber que os otmanos são muçulmanos sunitas! “Como? Pensei que eram otomanos…” Sendo assim, os judeus eram dhimmis, cidadãos “protegidos”, mas de fato de “segunda classe”, sem todos os direitos políticos, todavia gozavam de liberdade religiosa total.
Sabemos pela história da prostituição judaica nos países muçulmanos, que o sultão turco não se importava com o que os judeus estivessem fazendo, desde que seguissem as leis.


Entre os judeus mobilizados por países aliados, temos: Rússia 650 mil (inclui Polônia e todos os países do Pale), Estados Unidos 250 mil, França 55 mil, Império Britânico 50 mil, Romênia 38 mil, Itália 6 mil, Bélgica mil, Sérvia e Grécia 1.200 cada.
No Japão e Montenegro não havia judeus e os poucos judeus de Portugal não foram recrutados, apesar de alguns voluntários terem servido como oficiais. No Brasil não encontramos registro de militares judeus brasileiros participando da WW1.
Nas Potências Centrais os judeus convocados se dividiram em: Áustria-Hungria 320 mil, Alemanha 100.000, Turquia 18.000 (batalhões de construção) e Bulgária 12.500. Em termos percentuais, as potências centrais, que temos como “inimigas”, recrutaram judeus e não judeus na mesma proporção da sociedade em geral.
Já os aliados, os “amigos” recrutaram judeus com uma proporção entre 30% e 90% maior que a sociedade em geral, mas as maiores porcentagens são as dos países que recrutaram menos judeus. Nos EUA, o índice de judeus engajados é ligeiramente maior, pois houve uma enorme quantidade de voluntários.
Na morte, as coisas foram mais igualitárias e o número de judeus mortos é impressionante: 11% entre os Aliados e 12% entre as Potências centrais. Só entre os russos foram 100 mil militares judeus mortos (número que inclui os combates da Revolução Comunista de 1917), outros 9.500 entre os franceses, 2.400 britânicos, 500 italianos, 3.400 americanos, 900 romenos, 250 sérvios, 125 belgas e 300 gregos. Um total de 117.375 soldados judeus mortos.
Nas Potências Centrais, foram 12 mil alemães, 40 mil austro-húngaros, mil turcos e mil búlgaros, um total de 54.000 judeus mortos.

Somando os civis contabilizados, chegamos a cerca de 322.000 judeus mortos na Primeira Guerra Mundial, com uma estimativa baixa. Não há dados sobre o número de feridos nem os que morreram depois em consequência de ferimentos. Ainda assim o que as pessoas não aprenderam nas escolas faz todos pensarem que os judeus não participaram da Primeira Guerra Mundial.
ESTADOS UNIDOS

Alguns dados americanos impressionantes: 30% dos judeus se alistaram para os Fuzileiros Navais (Marines), quando se anunciou que aquela seria a tropa de choque e primeiro combate e 3,4% dos fuzileiros eram judeus, dos quais 100 eram oficiais, inclusive seu comandante, o brigadeiro-general Charles Lauchheimer (na foto). Veja só: nunca te contaram que o comandante dos Marines na Primeira Guerra Mundial era judeu! Agora você sabe. Ele se formou como oficial na Academia Naval em 1881. Teve uma carreira tão importante que o Troféu Lauchheimer é concedido ao
competidor fuzileiro que atingir a maior pontuação agregada
nas competições individuais de tiro de carabina e pistola.
7% da Força Aérea era composta por judeus. No total os americanos tiveram 6 generais judeus, mais de 100 coronéis, mais de 500 majores, 1.500 capitães e 6.000 tenentes. Na Marinha foram outros 900 oficiais judeus.
Não menos de 1.100 medalhas de valor foram entregues a judeus americanos: 723 pelos americanos, 287 por franceses, 33 pela Inglaterra além de outras 46.
A maior comenda americana, a Medalha de Honra do Congresso foi dada a 6 judeus e a Cruz de Serviços Distintos, a 150. A Medalha Militar Francesa (sua maior honraria) foi concedida a 4 judeus americanos e Cruz de Guerra, a outros 174.
INGLATERRA
A Inglaterra teve 1.140 oficiais judeus. Nos domínios britânicos (diversas áreas coloniais menores) viviam 17.000 judeus e 2.000 deles foram para a guerra. Na Austrália havia 80.000 judeus e 6.000 foram para a guerra. Da Índia serviram 100 judeus. Os judeus britânicos deixaram no campo de batalha 334 oficiais e 2.091 soldados tombados. Outros 6.800 foram feridos.
Dois ativistas sionistas, cujos nomes são hoje bem conhecidos e identificados com a “direita judaica”, Joseph Trumpeldor e Vladimir (Ze’ev) Jabotinsky, foram decisivos na criação de unidades de combate apenas de judeus nos exércitos britânicos.
A primeira foi o Corpo de Mulas Zion (de transporte) em 1915, que serviu na batalha de Galipoli, contra os turcos. A logística de abastecimento de munição, comida e água era enorme e fundamental. Depois, Jabotinsky conseguiu a criação dos batalhões 38th, 39th e 40th dos Fuzileiros Reais. Foram coletivamente chamados de Legião Judaica.
Na foto abaixo, Jabotinsky é o terceiro da direita para a esquerda na fila central com os braços cruzados (apontado pela seta branca). Esta é uma fotografia do 16th Pelotão do Batalhão de Londres, durante treinamento em 1917. Iriam se juntar ao 38th batalhão. A bandeira com duas estrelas de Davi e a Union Jack no centro era normal para os batalhões de judeus britânicos.

FRANÇA
Nos exércitos franceses, havia 40.000 judeus da Europa e outros 15.000 das colônias: Argélia, Tunísia e Marrocos. Mas na França, residiam 30.000 judeus russos, romenos e turcos e 12.000 deles foram voluntários na Legião Estrangeira, lutando contras seus próprios países de origem: 2.000 morreram.
Estes são alguns dos números oficiais de uma guerra mundial onde judeus combateram em todos os países, mataram-se nacionalisticamente e com orgulho, mas tiveram sua memória varrida da história, dando a impressão de que os judeus nunca estiveram lá.
OS ARGENTINOS DESAPARECIDOS
Em 9 de outubro de 1918, chegaram ao Rio de Janeiro, de passagem, 52 voluntários judeus uniformizados do 52o Batalhão de Caçadores do exército argentino. Só que a Argentina nunca declarou guerra à Alemanha e não se sabe o que foi feito destes homens. É provável que tenham ido para a Legião Estrangeira francesa e não tenham chegado a tempo de participar dos combates, pois a Alemanha se renderia no dia 11 de novembro. Sabemos que grande número de militares que chegaram à França no final da guerra, acabaram atuando por meses nos hospitais de campanha, tratando não só de feridos como de vítimas da Gripe Espanhola. Havia um hospital de campanha brasileiro, com um missão médica, entre eles.

O jornal “A Epoca” é contundente: “Foi de uma imponência fóra do commum a manifestação de carinho promovida pela colonia israelita aos voluntários seus patrícios vindos de Buenos Aires… A Associação Sionista do Rio de Janeiro preparou uma acolhida digna aos destemidos voluntários que desembarcaram em meio das mais vivas acclamações.” Foi uma recepção que surpreendeu a cidade.
Existe o mito da pobreza dos imigrantes, mas não desta leva da primeira década, tanto que a comunidade compareceu no porto com 132 automóveis, próprios e de aluguel (seria sem precedentes até mesmo nos dias de hoje) “muitos com bandeiras dos alliados e outros com as de sociedades israelitas.”
Levaram os soldados judeus do Cais do Porto para a sinagoga Tiferet Sion, dirigida pelo emblemático David José Perez. No salão da sinagoga foram recebidos por parte da comunidade, cantaram “Hatikva” (hino sionista com sua letra antiga) em conjunto. Em nome dos judeus árabes do RJ, discursou em árabe o “sírio sr Aron Atia” que cantou com todos o “Hymno Israelita” (como alguns denominavam o hino sionista).
Os jornais nos deixam conhecer os nomes de alguns destes judeus. Falaram pelos voluntários argentinos o soldado Gustavo Adolpho Buhler, o tenente Wladmir Herman e um jornalista judeu chamado D. M. Menchez, engajado como soldado. Também falaram os outros membros da diretoria da Tiferet Zion: Jacob Schneider, Sinnai Faingold, Boris Tcholrnei e Tuli Sendler.
Após o Brasil sair da neutralidade houve várias campanhas de arrecadação de fundos para a Cruz Vermelha. A Companhia Israelita de teatro de H. Starr promoveu eventos beneficentes. A Sociedade Beneficente e Funerária Israelita (das Polacas) e a União Israelita levantaram fundos entre a comunidade e os enviaram à Cruz Vermelha.
OUTRAS FOTOS DE MILITARES JUDEUS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL




















© 2013-2025 José Roitberg – jornalista e pesquisador
Fotos da AJAX são de Ronaldo Gomlevsky
Texto publicado originalmente na Revista Menorah 650 de novembro de 2013